Segundo Silvio Soares de Macedo, as praças são espaços de convívio onde todos os integrantes da família podem usufruir. “As crianças pequenas são levadas a playgrounds, crianças maiores e jovens vão jogar ou patinar, velhos vão jogar cartas ou bochas, cachorros são conduzidos por seus donos para o passeio diário”. (MACEDO, 1999, p. 77). Porém, conforme o autor, os hábitos urbanos começaram a se interiorizar com o advento da televisão, passando a fixar as pessoas mais dentro das suas casas. Assim, as ruas passam a ser ocupadas pela camada da população rejeitada pela sociedade.
Por ser um espaço onde qualquer pessoa pode ter acesso, na nossa cultura, infelizmente, ele é comumente interpretado como “espaço sem dono” ou “espaço de ninguém”. Portanto, o espaço público gera medo e nele as pessoas mantêm-se afastadas uma das outras como forma de se proteger. Considerando os parâmetros de Hall, as pessoas procuram se distanciar umas das outras cerca de 3,50 à 7,50 metros, distância a qual “uma pessoa pode empreender uma ação de fuga ou defesa, se ameaçada”. (Hall apud OKAMOTO, 2002, p. 175).
Assim, a vida pública cotidiana das pessoas volta-se para os locais fechados ou para os espaços privados como os shoppings centers, entendidos forçadamente como semi-públicos.
Nesse panorama, o automóvel exerce uma forte influência no ser humano em diversos aspectos. Além da sensação de status e beleza, ele desperta um caráter de segurança e privacidade. “O carro é como uma espécie de bolha protetora do indivíduo na cidade” (NUNES & BENICCHIO, 2004). É um espaço privado individual no espaço público, uma parte da casa que se leva para a rua.
A utilização em exagero do carro nas cidades faz com que se diminua a quantidade dos espaços públicos nelas. Eles ocupam hoje em dia, segundo Nunes e Benicchio, 30% da área urbana na cidade de São Paulo por exemplo. “No lugar da praça, o shopping Center; no lugar da calçada, a avenida; no lugar do parque, o estacionamento; em vez de vozes, motores e buzinas”. (NUNES & BENICCHIO, 2004).
Os menos favorecidos, as pessoas com nível social menos elevado, são os que mais sofrem com essa diminuição do espaço público e falta de equipamentos urbanos, pois para elas não há mais opção de lazer.
Em contraposição a essa situação, cidades européias, como Copenhagen, na Dinamarca e Amsterdã, na Holanda, apóiam o uso de meios de transportes alternativos, entre eles a bicicleta. Essas cidades executam cada vez mais projetos de ampliação de ciclovias e bicicletários, em busca da cidadania, por uma cidade melhor e mais saudável. Dessa forma sobra mais espaço para as pessoas, pois essas cidades dão prioridade ao ser humano não aos automóveis.
Foto: Bicicletário em Amsterdã/ Fonte: Cimatti (www.flickr.com/photos)
Quanto menos se usa a cidade, mais ela se torna perigosa. “O isolamento leva ao sentimento de solidão. A repetição infinita dos mesmos pequenos rituais leva ao tédio”. (NUNES & BENICCHIO, 2004). Com o usufruto da cidade, o ser humano descobre relações e percebe melhor a paisagem. Só assim será possível sentir a cidade e absorver as coisas boas que ela tem a nos passar.
Estamos acostumados a ir e vir todos os dias pela cidade e esta parece não nos passar nenhum tipo de sentimento. Mal percebemos as edificações ao nosso redor. É bem capaz de não sabermos responder sequer qual é a cor da casa localizada à esquina da nossa rua.
Vários motivos contribuem para essa falta de sensibilidade para com a arquitetura. Entre eles está o isolamento atual das pessoas em espaços privados, conforme dito anteriormente. Assim, as pessoas vivem num lugar onde “o meio não é seu, o meio é para passagem”. (NUNES & BENICCHIO, 2004). Nós abandonamos a cidade na medida em que nos encontramos sempre fechados dentro dos nossos veículos ou em condomínios, e o fato de não usufruirmos dela acaba por privarmos de percebê-la e senti-la.
BIBLIOGRAFIA: MACEDO, Silvio Soares de. Quadro do paisagismo no Brasil. São Paulo: Coleção Quapá, 1999./ OKAMOTO, Jun. Percepção Ambiental e Comportamento: Visão Holística da Percepção Ambiental na Arquitetura e na Comunicação. São Paulo: Editora Mackenzie, 2002./ NUNES, Branca & BENICCHIO, Thiago. Sociedade do Automóvel. São Paulo: Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da PUC, 2004.
*textos retirados de Monografia "ARQUITETURA... UMA PAUSA PARA A EMOÇÃO", apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes em 2007. Autoria: Carolina A. Vasconcelos
3 comentários:
Ae Carol!! Fiquei feliz em ver um post seu e com um conteúdo tão legal como este! Este texto mostra muito do que realmente as pessoas que somente utilzam o carro na cidade estão os sentidos de solidariedade e percepção do espaço urbano!
Valeu!
o fato das pessoas se isolarem (nao so dentro dos seus carros, mas também dentro dos espaços privados fechados como os shoppings centes por exemplo) faz com que elas se privem de "viver" toda a cidade e nao perceba uma infinitude de coisas nela, inclusive a arquitetura.
A cidade é um lugar com um inúmeras possibilidades que deixamos pra trás uma vez que nosso carro anda rápido demais...
Os condomínios fechados são uma praga no brasil, e retardadas são as pessoas que são vendidas para as propagandas publicitárias de que estes são os modelos de moradia.
Desafio você, morador de condomínio, a achar algum tipo dessa tipologia de moradia nos países desenvolvidos.
Provavelmente vai ser muito difício, porque qualquer país que possue um planejamento urbano HUMANO sabe que isso é uma desgraça, arrasa o tecido urbano da cidade e acaba com os espaços Humanos e Publicos.
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